Século XIX, ano de 1820 na Europa, (mais precisamente em Londres, Inglaterra) o Byronismo estava em pleno vigor na região, com textos extravagantemente belos, escritos por Lorde Byron, que encantavam e apaixonavam as belas donzelas de Londres. Mas em uma cidadezinha ao norte da Inglaterra, eram os textos do escritor Johnson, que encantavam uma linda donzela, chamada Mary.
Mary lia todos os textos de Johnson. Encantava-se com suas obras e chorava ao ver o triste fim da mocinha no final de cada texto. Mais se deliciava ao imaginar o esplendoroso amor existente entre os casais personagens, se excitava com suas aventuras sexuais, imaginando loucamente as cenas que ele retratava tão minuciosamente a cada palavra, que logo apaixonara-se pelo escritor, assim criando-se um desejo de conhecê-lo.
Johnson por outro lado era uma pessoa triste, perdeu os pais ainda criança, viveu até os 17 anos em um orfanato onde era maltratado pelas crianças mais velhas, até ser expulso do mesmo. Morava em uma pequena cabana próxima ao lago da cidade, sozinho, sem amigos, parentes, ou até mesmo fãs. Mas seu talento em escrever era nato, ele relatava tudo aquilo que vivia em seus pensamentos, e se um dia puder vir a vivenciar todos aqueles acontecimentos ilusórios, sentir-se-ia realizado. Johnson e Mary eram absurdamente diferentes. Um escritor e uma leitora, ligados por um laço de puro romantismo literário, não poderiam imaginar o que os esperava ao longo daquele outono brando.
Logo quando se conheceram, Mary e Johnson se apaixonaram perdidamente um pelo outro, Mary sentia por Johnson um amor fanático. O autor não se deixava pernoitar pensando em como seria se ela pudesse vivenciar tudo aquilo que o autor idealizava mentalmente ao escrever seus textos. Ela queria aventuras, queria ser aquela personagem do texto, mas Johnson só queria algum motivo pra viver, e encontrou na claridade dos olhos verdes de Mary, e logo deu toda sua vida que até agora era simples e triste àquela bela moça do campo e juntos viveram momentos eternos de amor, carinho, sonhos, brincadeiras... Mais Mary logo percebeu que não poderia ser aquela personagem que lera em seus textos. Johnson não desejava o amor de Mary, ele achava que o amor dele era suficiente para ambos, que ela não o tinha como direito, mais ele a tinha como combustível para viver, ele a queria apenas para si, um amor tão egoísta que acabou causando uma tremenda decepção ao coração de Mary, que logo também atingira o de Johnson, e deixara-o em total depressão. Os encontros foram desabando, como as folhas que caiam ao chão e era levada pelas ventanias breves e suaves daquele outono. Logo chegaria o inverno, que por obra do cruel destino, espelhava dolorosamente o que se passava no fundo aquele jovem escritor, os céus se rasgavam, choravam incessantemente, gritavam aos sons de trovões, mostravam sua fúria em ventanias, choravam como se nada houvesse além do profundo vazio que ficara. O inverno era o espelho da alma sangrante do Johnson.
Nas semanas seguintes, Mary percebeu que os textos que lia com tanta vontade e escritos por seu amado, mudaram totalmente. Agora relatava a profunda tristeza, a busca da morte ou algo que curasse aquela pobre alma morta, presa aquele corpo que não passava de puro estilhaço ”O que fazer quando seu próprio eu, lhe afasta da sua amada? Quando sua vida o empurra para o outro lado da estrada, quando alma e coração não andam juntas?“ Johnson se perguntava em seus textos. Tentara buscar a resposta para o que tanto o machucava, porque não viver ao lado da sua amada? O que você precisa pra viver com ela está lá, mas seu próprio gênio lhe empurra para a direção contraria, ele acabara de perceber que seu amor não era suficiente para ambos, que o egoísmo estava o levara para o abismo, mais ele nada poderia fazer a não ser possuí-la em seu próprio mundo, mas o que fazer quando o seu próprio mundo não é o suficiente, quando você quer mais do que pode ter?
Ele encontrou a resposta na morte. Logo as chuvas pararam, os ventos cessaram... Sobrara apenas o frio. E o inverno ficou tão sombrio que lobos uivavam como se demonstrassem medo da natureza, temendo o que havia pela frente. Mas Johnson não temeu. Com a mesma caneta que ele escrevia os textos que encantavam as noites de Mary, aquela mesma caneta simples e velha, atravessara seu pescoço, matando seu próprio mestre!
Nos dias seguintes, Mary percebeu que não haviam mais textos escritos por Johnson e ao procurar saber o que haverá de ter acontecido, se deparou com a morte do seu maior amor que não era Johnson como pessoa, mais sim o que estava dentro dele, ou melhor, o que ele fazia quando pegava aquela caneta, a mesma que tirou sua vida, e que em seus textos davam vida a personagens e a imaginação de Mary. E isso foi demais para aquela jovem donzela. A boca secara, o coração batia sem tom, como se estivesse perdendo a vontade de viver, pedindo para ir ao encontro de ao amado, como se o coração de ambos estivessem ligados até depois da morte. O que fazia Mary viver, já não existe mais, e naquela pequena cidadezinha ao norte de Londres, aquele inverno já não é mais o mesmo.
Logo depois, (mais precisamente quatro dias) saem nos jornais a nota do suicídio de uma mulher, que se matou enforcada no próprio quarto. No local, foram encontrados vários textos de um escritor que dias antes, também se suicidara. Naquela mesma manchete, tinha escrita uma frase que foi encontrada no ultimo texto escrito por Johnson que infelizmente não poderá ser apreciado por completo, pois o texto era um rascunho e o sangue manchara o texto praticamente todo, só havia uma frase legível. “os que amaram, e ainda amam de verdade, mesmo não estando mais no mundo dos vivos, ainda sim, estão eternizados no coração dos seus amados. Johnson Walker.”